O sonho de todo entusiasta é ter um project car para chamar de seu — ter um carro para modificar do seu jeito, seja para as ruas, para pista ou até os dois. Perguntamos aos leitores que carro seria a melhor base para começar, e agora temos a lista com as respostas.
Nossa ideia era conseguir sugestões variadas, e que os leitores levassem em consideração critérios como preço relativamente acessível, viabilidade de modificações, facilidade para encontrar peças e potencial de preparação. Obviamente, o carros não precisam ter todas estas características mas, como você vai ver, os nomes sugeridos equilibram bem estes critérios. Um detalhe legal: quase 100 % das sugestões foram de carros nacionais.
Volkswagen Fusca
O Fusca é um carro peculiar no mercado — não é incomum um exemplar íntegro e bem cuidado custar o mesmo que um carro em mau estado, cheio de coisas para fazer. A verdade é que cada um cobra pelo Fusca o preço que quer, o que pode tornar a busca por um carro bom a um preço justo bem cansativa. Encontrado o carro ideal, contudo, você tem um carro versátil, de manutenção conhecida e capaz de se tornar tanto um daily driver estiloso quanto um monstrinho rápido, potente e barulhento.
O motor boxer é um dos que oferecem mais opções de preparação e peças de manutenção, e existem diversas fontes de peças de acabamento, estrutura e mecânica do besouro, além de componentes novos, feitos com materiais melhores e tecnologia moderna. Porém, é preciso dar atenção especial à suspensão: a configuração original, com braços arrastados na dianteira e semi-eixos oscilantes na traseira, pode ser suficiente para um carro comportado, mas é antiquada e perigosa para andar forte — a variação na cambagem que acompanha a inclinação da carroceria em curvas atrapalha e pode até causar um acidente. Por isso, para um carro preparado é altamente recomendável a adoção de um sistema mais moderno, como a própria VW fez com a Variant II. Há quem adapte um sistema parecido com o da perua na traseira do Fusca, melhorando bastante seu comportamento dinâmico, e algumas empresas já fazem um sistema de braços triangulares sobrepostos para a dianteira.
Quer algo mais extremo? Com adaptações maiores, é possível colocar um boxer Subaru na traseira do Fusca. Há projetos que escondem totalmente o radiador, criando verdadeiros sleepers.
Família Volkswagen BX
Não é à toa que Gol, Voyage e Parati de primeira geração são tão populares. Apesar do projeto antigo e da ergonomia desajeitada (impossível não lembrar do volante desalinhado em relação aos pedais), são carros fáceis de encontrar, ficam estilosos quando personalizados com bom gosto, e oferecem uma ampla gama de opções de preparação e modificação, especialmente os equipados com motor AP. O que não é tão bacana é o preço: justamente por sua popularidade, os preços são mais altos do que os de outros carros de mesmo ano e estado de conservação.
Dodge 1800 / Polara
Pense nele como um Chevette um pouco mais exótico. A concepção mecânica é a mesma: motor dianteiro de quatro cilindros montado em posição longitudinal e tração traseira. Suas peças não são tão fáceis de encontrar mas, com sorte, podem ser trazidas da Argentina, onde também foi fabricado (e, no fim da vida, virou um Volkswagen). Dá para encontrar um exemplar inteiro por cerca de R$ 9 mil.
Se quiser uma referência bacana para seu projeto com um Dodginho, saiba que o Hillman Avenger, o inglês que lhe deu origem (a Hillman pertencia à Chrysler na época) tem muita tradição nos ralis pela Europa.
Óbvio demais? Que tal, então, um Polara de arrancada como o de Alexandre Polycarpo? Ele concorre na categoria Turbo Traseira com o motor original, gaiola de proteção integral e suspensão retrabalhada:
Lada Laika
O Lada Laika
começou a ser importado logo que o mercado nacional foio aberto, em 1990. Já era um carro defasado (o projeto original é o Fiat 124 de 1966) porém notável por sua robustez e baixo preço, que chegavam a compensar o acabamento ruim e a baixa qualidade de construção. Como o Chevette, ele pode ser um daily driver estiloso ou um carro de pista com motor mais potente — basta lembrar do Lada-Lotus do Top Gear ou do “Meianov” do jornalista Flavio Gomes.
Como ele não é um carro muito cultuado, você pode escolher qualquer motor sem medo de comprar briga com ninguém. Motor AP? Manda ver! C20XE? Demorou! Um wankel? É só achar um!
Ford Ka XR
Poderíamos falar só do Ford Ka XR. O pequeno esportivo brasileiro foi em 2001, aproveitava a dinâmica acertada do Ka com um motor 1.6 de 95 cv. O comportamento esportivo ficava por conta da suspensão mais firme e com barra estabilizadora e das rodas de 14 polegadas com pneus 185/60. Se você achar os XR meio inflacionados, não tem problema. Na verdade as demais versões mantém a boa dinâmica graças ao baixo peso e as rodas nas extremidades da carroceria. E isto vale até para o modelo reestilizado, que ficou maior mas não perdeu a vocação para divertir. É um dos melhores compactos relativamente modernos para um project car, period.
Chevrolet Astra
Quando falamos no Astra, pensamos no primeiro modelo a desembarcar no Brasil, o chamado “Astra Belga”, a partir de 1995. Ele não é muito bonito, mas oferece uma bela base para modificações: ergonomia correta, mecânica robusta — o bom e velho Família II da GM, que facilita a procura por peças de preparação — e dimensões comedidas, um reflexo da época em que foi lançado. Um bom acerto de suspensão pode transformar um Astra em um devorador de curvas absurdo.
Puma
Quando alguém fala em Puma, esta pessoa pode estar se referindo a um clássico baseado nos DKW, um clássico com mecânica Volkswagen, ou um clássico com o motor 4.1 do Opala. Em todos os casos, você está lidando com um carro raro e que, se modificado, pode causar revolta entre alguns mais conservadores se o trabalho não for bem feito e de muito bom gosto.
Contudo, se você sabe o que tem nas mãos e o que está fazendo, um Puma pode ser um belo project car. Talvez você deva deixar os DKW quietos, pois eles são os mais raros, mas os carros com mecânica Volkswagen oferecem a mesma variedade de preparação que o Fusca, com uma carroceria mais elegante e esportiva — e, um detalhe muito importante — centro de gravidade mais baixo. No caso do GTB, com motor dianteiro de origem Chevrolet, a preparação no seis-em-linha pode render alta cavalaria em um carro confortável e raro — e tambem bastante traiçoeiro, por causa do motor torcudo somado ao entre-eixos curto. Tenha em mente, porém, que em qualquer um dos casos dificilmente você terá um projeto barato nas mãos.
Fiat Uno
O pau-para-toda-obra da Fiat, que inaugurou o segmento popular e foi por anos o carro mais barato do Brasil, também é um excelente ponto de partida para um hot hatch. Bom acerto dinâmico — graças às suspensão independente nas quatro rodas —, preço relativamente em conta e peso naturalmente baixo são só alguns predicados que o tornam um bom candidato a primeiro (e segundo, e terceiro) project car. A própria Fiat sabe disso, ou não teria lançado uma sequência de versões esportivas legais — 1.5 R, 1.6 R, 1.6R MPi e Uno Turbo.
Se você quer algo old school, pode tentar repetir do seu jeito a receita destes carros — motor Fiasa com carburação dupla, motor Sevel 1.6 turbinado. Ou você pode tentar algo mais moderno — um Uno com motor Fire 1.4, com injeção multiponto e 86 cv (etanol), já deve ser bem divertido. E que tal turbiná-lo?
Honda Civic (quinta geração)
Se dinheiro não for um problema muito grande, um Honda Civic importado (lançado no Brasil em 1992) pode ser um bom começo de projeto. Não precisa nem mesmo ser um dos mais potentes, com comando VTEC — mesmo os básicos têm visual legal (com muitas referências na internet), dinâmica bem acertada para um carro de tração dianteira, preço razoável e mecânica resistente. É claro que um Civic VTi, com seu motor B16 1.6 de 160 cv, seria o ponto de partida ideal.
A boa notícia é que o Civic da década de 90 (o que também inclui a geração seguinte) é um dos carros mais populares do mundo para preparação e modificação. Isto se traduz em uma oferta de peças gigantesca, que dá a possibilidade de, no Brasil, se importar peças pelo eBay ou nas seções de classificados de fóruns. É uma faca de dois gumes, e o risco de ser taxado pela Receita sem dó é bem grande, mas a canseira certamente compensa. Se você quiser algo um pouco (bem pouco) mais simples, dá para adaptar o motor K20 de 192 cv do nosso Civic Si no cofre do modelo de quinta geração.
Volkswagen Gol / Voyage
A última e mais nova sugestão da lista é o Volkswagen Gol atual. Carros usados e antigos são legais, mas também é bacana ter um carro mais moderno e confiável como base para um projeto. Goste ou não dele, o Gol é um carro bem acertado, com acabamento simples, porém de qualidade, e bem atraente — a versão de duas portas praticamente implora para virar um hot hatch. Uma ideia: o motor 2.5 do Jetta da geração anterior, que ronca bonito e tem 170 cv de fábrica. Vai um “VoyaJetta” aí? Outra sugestão? Que tal o 1.8 turbo do antigo Golf GTI, ou quem sabe um motor 20v da Audi ?
Fonte: www.flatout.com.br